segunda-feira, 16 de março de 2015

Ex-treinadores do SeaWorld revelam que orcas do parque eram drogadas diariamente



Orcas em cativeiro no SeaWorld receberam drogas diariamente para combater o stresse crónico que sofriam, afirmaram ao The Dodo vários ex-treinadores da empresa.
“Tínhamos baleias que estavam sob efeito de medicação todos os dias de sua vida”, diz John Hargrove, que foi treinador nos parques SeaWorld em San Diego e em San Antonio durante cerca de 14 anos. Ele publicou recentemente um livro sobre o seu trabalho neste parque temático.
Além de Hargrove, o site de notícias animais The Dodo conversou com Samantha Berg, John Jett, Carol Ray e Jeffrey Ventre, sobre a medicação que eles utilizavam nos animais nos três parques da empresa. Desde antipsicóticos (para diminuir a testosterona) a benzodiazepínicos (para acalmar), as orcas precisavam de uma grande quantidade de substâncias para sobreviver num tanque, alguns desses medicamentos eram tão poderosas que até os humanos que as administravam estavam em risco, alegam os treinadores.
 Defensores da exploração de orcas em cativeiro afirmam que essas drogas ajudam a manter a saúde dos animais, mas a cientista de mamíferos marinhos Naomi Rose, do Animal Welfare Institute, diz que a vida dentro de um tanque é a causa do problema: “Eu posso afirmar com segurança que todas essas medicações dadas são resultado de problemas associados ao cativeiro. Orcas selvagens não tomam nenhum remédio e todas parecem estar muito bem obrigado”.
Um dos medicamentos utilizados é o antiácido cimetidina. Era prescrito diariamente para orcas adultas com o objetivo de tratar úlceras, de acordo com o treinador Ray, que trabalhou no parque de Orlando entre 1987 e 1990. Úlceras são um problema para muitos animais marinhos mantidos aprisionados e frequentemente estão relacionadas com o  stress e problemas ambientais. No livro Death at Sea World(Morte no SeaWorld), o jornalista David Kirby aborda o uso da cimetidina no parque marinho.
De acordo com Jett, treinador do SeaWorld Orlando durante quatro anos na década de 90, algumas das orcas estavam “quase sempre tomando antibióticos”, como a clindamicina, para prevenir infecções. Baleias em cativeiro são suscetíveis a infecções dentárias, pois costumam ferir os dentes nas paredes do tanque, além de infecções de ferimentos causados por outras baleias do mesmo tanque.
Por outro lado, antibióticos deixam os cetáceos mais vulneráveis a infecções causadas por fungos, o que levava os tratadores a injetarem um antifúngico chamado nistatina nos peixes dados aos animais. No mesmo livro citado anteriormente, Kirby também discute o uso de antibióticos. “Treinadores rotineiramente preenchem as guelras dos peixes com antibióticos, antiácidos e vitaminas”, escreveu.
“Quando Val (uma orca macho) estava a ficar sexualmente maduro, foi-lhe dado um medicamento antipsicótico para diminuir drasticamente seus níveis de testosterona”, disse Hargrove, que abandonou o SeaWorld em 2012. “Eu nadava com ele na água e ele parecia tão grogue. Não tínhamos ideia nenhuma do que acontecia na cabeça dele porque ele ficava fora de si”.
Num artigo científico publicado em 2004, Todd Robeck, chefe do programa de reprodução de orcas da SeaWorld, descreveu o uso da droga Regu-Mate para estimular a ovulação em baleias. Hargrove afirma que esses contraceptivos são utilizados para regular a gravidez, mas acrescenta que algumas drogas eram tão potentes que só treinadores homens podiam administrá-las.
“Podiam fazer com que as treinadoras mulheres ficassem estéreis. Nós (os treinadores homens) tínhamos que usar luvas, injetar no peixe e pôr um disco especial. Depois, tudo tinha que ser esterilizado e lavado”.
Além de todos os fármacos descritos, outras substâncias também eram dadas às orcas; por exemplo, até 35 quilos de gelatina por dia eram administrados a um animal para evitar a desidratação.
Treinadores ainda afirmam que tinham que nadar com as baleias mesmo que elas estivessem severamente medicadas e tinham preocupações em relação a sua própria segurança. Após a morte da treinadora Dawn Brancheau em 2010, os treinadores foram proibidos de nadar com as orcas. A complicada vida desses animais em cativeiro, no entanto, continua.

Fonte: The Dodo

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