Orcas em cativeiro no SeaWorld receberam drogas diariamente para
combater o stresse crónico que sofriam, afirmaram ao The Dodo vários
ex-treinadores da empresa.
“Tínhamos baleias que estavam sob efeito de
medicação todos os dias de sua vida”, diz John Hargrove, que foi treinador nos
parques SeaWorld em San Diego e em San Antonio durante cerca de 14 anos. Ele
publicou recentemente um livro sobre o seu trabalho neste parque temático.
Além de Hargrove, o site de notícias
animais The Dodo conversou com Samantha Berg, John Jett, Carol Ray e Jeffrey
Ventre, sobre a medicação que eles utilizavam nos animais nos três parques da
empresa. Desde antipsicóticos (para diminuir a testosterona) a
benzodiazepínicos (para acalmar), as orcas precisavam de uma grande quantidade
de substâncias para sobreviver num tanque, alguns desses medicamentos eram tão
poderosas que até os humanos que as administravam estavam em risco, alegam os
treinadores.
Defensores da exploração de orcas em
cativeiro afirmam que essas drogas ajudam a manter a saúde dos animais, mas a
cientista de mamíferos marinhos Naomi Rose, do Animal Welfare Institute, diz
que a vida dentro de um tanque é a causa do problema: “Eu posso afirmar com
segurança que todas essas medicações dadas são resultado de problemas
associados ao cativeiro. Orcas selvagens não tomam nenhum remédio e todas
parecem estar muito bem obrigado”.
Um dos medicamentos utilizados é o antiácido cimetidina. Era
prescrito diariamente para orcas adultas com o objetivo de tratar úlceras, de
acordo com o treinador Ray, que trabalhou no parque de Orlando entre 1987 e
1990. Úlceras são um problema para muitos animais marinhos mantidos
aprisionados e frequentemente estão relacionadas com o stress e problemas ambientais. No livro Death
at Sea World(Morte no SeaWorld), o jornalista David Kirby aborda o
uso da cimetidina no parque marinho.
De acordo com Jett, treinador do SeaWorld Orlando durante quatro
anos na década de 90, algumas das orcas estavam “quase sempre tomando
antibióticos”, como a clindamicina, para prevenir infecções. Baleias em
cativeiro são suscetíveis a infecções dentárias, pois costumam ferir os dentes
nas paredes do tanque, além de infecções de ferimentos causados por outras
baleias do mesmo tanque.
Por outro lado, antibióticos deixam os
cetáceos mais vulneráveis a infecções causadas por fungos, o que levava os
tratadores a injetarem um antifúngico chamado nistatina nos peixes dados aos
animais. No mesmo livro citado anteriormente, Kirby também discute o uso de
antibióticos. “Treinadores rotineiramente preenchem as guelras dos peixes com
antibióticos, antiácidos e vitaminas”, escreveu.
“Quando Val (uma orca macho) estava a ficar
sexualmente maduro, foi-lhe dado um medicamento antipsicótico para diminuir
drasticamente seus níveis de testosterona”, disse Hargrove, que abandonou o
SeaWorld em 2012. “Eu nadava com ele na água e ele parecia tão grogue. Não
tínhamos ideia nenhuma do que acontecia na cabeça dele porque ele ficava fora
de si”.
Num artigo científico publicado em 2004,
Todd Robeck, chefe do programa de reprodução de orcas da SeaWorld, descreveu o
uso da droga Regu-Mate para estimular a ovulação em baleias. Hargrove afirma
que esses contraceptivos são utilizados para regular a gravidez, mas acrescenta
que algumas drogas eram tão potentes que só treinadores homens podiam
administrá-las.
“Podiam fazer com que as treinadoras mulheres
ficassem estéreis. Nós (os treinadores homens) tínhamos que usar luvas, injetar
no peixe e pôr um disco especial. Depois, tudo tinha que ser esterilizado e
lavado”.
Além de todos os fármacos descritos, outras
substâncias também eram dadas às orcas; por exemplo, até 35 quilos de gelatina
por dia eram administrados a um animal para evitar a desidratação.
Treinadores ainda afirmam que tinham que
nadar com as baleias mesmo que elas estivessem severamente medicadas e tinham
preocupações em relação a sua própria segurança. Após a morte da treinadora
Dawn Brancheau em 2010, os treinadores foram proibidos de nadar com as orcas. A
complicada vida desses animais em cativeiro, no entanto, continua.
Fonte: The Dodo
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