Atualmente em livros infantis, vemos estes animais
designados por animais da quinta. Anteriormente, ou no nosso tempo, como se
costuma dizer, chamava-se a estes animais, animais de criação, são eles as aves
de capoeira, também assim designadas. Esta criação era de grande utilidade para
as famílias que habitavam e cultivavam os campos. As aves de criação forneciam
ovos e carne para toda a família e por vezes para comercializar. Por isso quase
todas as famílias que habitavam zonas rurais optavam por ter capoeiras de aves.
Embora pudessem ter aves de outras espécies, a preferência recaia sobre as
galinhas.
“(…) Por fim decidimo-nos por aves de capoeira. As
galinhas faziam todo o sentido para qualquer agricultor que tivesse renegado o
uso de pesticidas e fertilizantes químicos. Eram pouco dispendiosas e
relativamente fáceis de tratar. Só precisavam de uma pequena gaiola e de umas
quantas caixas de milho triturado para serem felizes. Para alem de nos darem
ovos frescos, tinham a vantagem de, quando deixadas à solta, passaram o dia a
percorrer zelosamente a propriedade, comendo lagartas e insetos, devorando
carraças, remexendo o solo como pequenas motoenxadas muito eficientes e
fertilizando-o com os seus excrementos ricos em nitrogénios pelo caminho. Todas
as noites ao entardecer voltam sozinhas para a capoeira. Como não gostar delas?
Uma galinha era o melhor amigo do agricultor biológico. Eram perfeitas (…) ” in
Marley & Eu de John Ghogan.
Mas todos estes argumentos não convenciam
definitivamente o nosso pai. Bem que a mãe gostaria de ter galinhas, mas o pai
não gostava nada desse tipo de animais. Dizia que sujavam tudo e assim andava
sempre com os pés todos cagados de excrementos. Mas com o tempo a mãe lá
conseguiu levar a água ao seu moinho. Um dia ao regressar da feira semanal lá
apareceu em casa com as galinhas. As nossas galinhas! Todos nós tínhamos uma
galinha. “(…) Façam o que fizeram não deixem os miúdos batiza-las. Se as
batizarem deixam de ser galinhas e passam a ser animais de estimação (…) in
Marley & Eu de John Ghogan.
Mas batiza-las foi a primeira coisa que as crianças
desta fantástica narrativa fizeram e nós também. Cada um tinha a sua galinha ou
o seu galo e na hora de se decidir qual dos animais ia para a panela ninguém
queria que fosse o seu.
Estes animais piolhosos conviviam lado a lado
connosco. E apesar de estúpidos cada um linha as suas particularidades.
Galinhas, que se escondiam, por largos dias, ninguém sabiam onde paravam,
aparecendo mais tarde com uma ninhada de pintainhos, galinhas que andavam
constantemente a mudar de ninho para que ninguém descobrisse os seus ovos, etc.
“O galo é o marido da galinha. É maior e mais robusto
que as galinhas e tem um porte altivo. É o chefe da capoeira.” In Dicionário
por imagens dos animais. Os nossos galos também eram assim, chefes do bando,
donos e senhores das galinhas todas. Acontece que um dia, um desses galos
decidiu atacar pessoas, começou por atacar alguém estranho à casa. Imaginem o
galo que era do Augusto foi logo saltar ao padrinho do Augusto! Tanto quanto me
lembro só saltava ao pessoal masculino, menos ao dono, claro. O dono dava-lhe
colo. Oiriçava-se todo e atacava. Uma vez tive que lhe dar umas boas
vassouradas para que ele deixasse o Manuel em paz. Apesar da sua valentia este
também não escapou à panela. Sim porque os galos também acabam por ir parar às
panelas, embora em temos de carne não sejam grande coisa. São sempre muito
magros, comem pouco e passa o dia atrás das galinhas. “(…) tínhamos agora três
meninas e um tipo com uma crista na cabeça bombeado de testosterona que passava
todo o santo dia a fazer uma de três coisas: procurando sexo, fazendo sexo ou a
cantarolar jocosamente as suas façanhas sexuais. Jenny comentou que os galos
eram aquilo que os homens seriam se fossem abandonados aos seus próprios
mecanismos, sem convenções sociais para refrear os seus instintos mais básicos,
e eu não podia deixar de concordar com ela. Tinha de admitir que até sentia uma
certa inveja daquele filho da mãe.” in Marley & Eu de John Ghogan.
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