terça-feira, 3 de maio de 2016

Chernobyl torna-se santuário da vida selvagem 30 anos após desastre nuclear



Passados 30 anos desde o mais grave acidente nuclear de que há registo, e que levou a que dezenas de milhares de pessoas abandonassem as suas casas para escaparem as partículas radioactivas mortíferas, que se espalharam por várias localidades da Ucrânia e países vizinhos; este local fantasmagórico, e onde ninguém se atreve a entrar, está a ser refugio para várias espécies de animais tais como: alces, cervos, castores, corujas e até animais raros como o urso pardo, o lince e lobos. 

A ex­plosão de Cher­nobyl es­pa­lhou to­xinas ra­di­o­a­tivas por toda a Eu­ropa, ma­tando mi­lhares de pessoas com cancro e com ou­tras do­enças re­la­ci­o­nadas com a ra­diação. Con­tinua ainda a causar pro­blemas em recém-nas­cidos na Bi­e­lor­rússia, Rússia e Ucrânia. A nuvem de ma­te­rial ra­di­o­a­tivo foi tão tó­xica para os bos­ques pró­ximos que os pi­nheiros sim­ples­mente mor­reram, e a área ao redor da cen­tral nu­clear es­tará fe­chada para ha­bi­tação hu­mana por cen­tenas, senão mi­lhares, de anos. No en­tanto, um cres­cente nú­mero de na­tu­ra­listas acre­dita que o aci­dente pode ter pro­du­zido be­ne­fí­cios am­bi­en­tais ines­pe­rados. 

Com a ausência de humanos, criaram-se condições ambientais propicias para que as es­pé­cies ani­mais se passeiem pelo que é efe­ti­va­mente uma das mai­ores re­servas de vida sel­vagem da Eu­ropa, não in­ten­ci­onal.

A “zona”, como é po­pu­lar­mente co­nhe­cida, tornou-se um im­pro­vável san­tuário para fauna mais es­quiva, como o bi­sonte eu­ropeu em vias de ex­tinção, que atra­vessou a fron­teira da Bi­e­lor­rússia, e uma cres­cente po­pu­lação de ca­valos sel­va­gens. 

No final de 2014, uma câ­mara po­si­ci­o­nada por Sergei Gash­chak, bió­logo ucra­niano pi­o­neiro na investigação sobre bi­o­di­ver­si­dade em Cher­nobyl, re­gistou a pre­sença de ursos cas­ta­nhos, que não sendo uma es­pécie em vias de ex­tinção, não era vista na área desde há mais de um sé­culo, foram vistos di­versas vezes desde então. “Pode-se dizer que o efeito global foi po­si­tivo.”, Afirmou Nick Be­res­ford, pro­fessor e pe­rito em Cher­nobyl, ba­seado no Centre for Eco­logy and Hy­dro­logy em Lan­caster. “A ra­di­ação en­volve po­ten­cial maior risco. No en­tanto, quando existem seres hu­manos os ani­mais são mortos ou perdem o seu ha­bitat.” 

Num estudo publicado a 18 de abril, na revista científica “Current Biology” mostra que Chernobyl mais se parece com um parque de proteção ambiental do que uma zona de desastre. Sem humanos, bandos de alces, veados, cervos, javalis e lobos são vistos perambulando entre ruas e construções abandonadas há três décadas. A pesquisa demonstra empiricamente a resiliência da vida selvagem, mas também pode ajudar na compreensão do impacto de longo prazo do desastre de Fukushima, ocorrido em 2011, no Japão.

É muito provável que o número de animais selvagens em Chernobyl seja bem maior agora do que antes do acidente, diz Jim Smith, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, Isso não significa que a radiação seja boa para a vida selvagem, apenas que os efeitos da habitação humana, incluindo caça, agricultura e desmatamento, são muito piores. 

Dados empíricos de longa duração recolhidos pelos investigadores da Bielorrússia durante inspeções de helicóptero, entre 1987 e 1996, mostraram igualmente tendências crescentes nas populações de alces, veados e javalis, tão rapidamente quanto um ano após o acidente que continuou crescendo por 10 anos. Os javalis cresceram muito rapidamente, por exemplo. “Muitos estavam a utilizar antigas fazendas, usando recursos agrícolas deixados, pomares, lavouras”, diz Smith. Ainda mais significativo é que estes aumentos constantes ocorreram durante um período em que todos os números dessas espécies vinham desaparecendo noutros países da antiga União Soviética.

Após o colapso da União Soviética, as mudanças sócio-económicas maciças aumentaram a pobreza rural e enfraqueceram a gestão da vida selvagem, mesmo as espécies de predadores (como os lobos), que muitas vezes se escondem dos humanos, encontraram o seu lugar dentro da zona de exclusão também, como se o local do desastre começasse a transformar-se num verdadeiro santuário para muitas espécies. “Linces euro-asiáticos e ursos marrons têm naturalmente colonizado a zona”, diz o ecologista Jim Beasley, da Universidade da Georgia, e co-autor do estudo, acrescentando: “As grandes, disseminadas e estáveis ​​populações de predadores de topo mostram a produtividade de um sistema. Você não pode ter grandes predadores de topo em lugares onde não há variedade suficiente de comida para eles comerem.” 

Os investigadores estão ansiosos para salientar que os efeitos negativos
devido à exposição à radiação a longo prazo em animais individuais ainda podem surgir; no entanto, as suas descobertas sugerem que estes não excluem os efeitos positivos que o abandono humano de Chernobyl teve sobre os números das populações de animais selvagens na área. “Nós sabemos que os animais de áreas contaminadas continuam a acumular altos níveis de radiação dentro de seus tecidos do corpo, mas quaisquer potenciais efeitos sobre os indivíduos são fortemente ofuscados pelo fato de que nós ainda vemos abundância e, mais importante, populações auto-sustentáveis para toda uma variedade de animais.”  

Em Chernobyl ocorreu o pior desastre nuclear de sempre, sinónimo de morte e imagens apocalípticas, agora se assemelhar a uma reserva natural repleta de vida selvagem, serve para nos lembrar da resiliência da natureza, mas também ilustra com clareza brutal o poder destrutivo que a presença humana tem sobre o meio ambiente. Em suma, diz Smith, “quando os seres humanos são removidos, a natureza floresce, mesmo no rescaldo do pior acidente nuclear do mundo.”  

Mas, este autor é rápido em acrescentar: “O que nós estamos a dizer não é que a radiação é boa para os animais, mas que a habitação humana, a ocupação e a utilização de uma paisagem é pior.”

Fontes: https://insider.pro/pt/article/81788/; http://zh.clicrbs.com.br; https://www.curioso.blog.br; http://conhecimentoaocubo.blogspot.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário