quinta-feira, 18 de junho de 2015

Papa diz que combater as alterações climáticas "é um imperativo moral"




Encíclica em "louvor da protecçãoda nossa casa comum" fala no comportamento irresponsável cujo resultado é a "destruição sem precedentes dos ecossistemas" e apela à mudança para a preservação do ambiente.

O Papa Francisco apresenta, hoje, 18 de junho a primeira encíclica dedicada à ecologia e ao cuidado do meio ambiente, um tema que constitui um desafio para todo o planeta, indicou nesta quinta-feira o Vaticano.


A primeira encíclica que pode ser atribuída completamente ao pontífice argentino, já que a anterior foi escrita a quatro mãos com Bento XVI, tem o título "Laudato sii" ("Louvado seja"), as palavras com as quais tem início o Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, considerado o primeiro texto ecológico da história, escrito antes da morte do santo defensor da natureza, em 1226.

A "verdadeira abordagem ecológica é sempre uma abordagem social que deve integrar a justiça nas discussões sobre o ambiente, para se ouvir quer o grito da Terra, quer o grito dos pobres". Na primeira encíclica de um Papa dedicada ao ambiente, Francisco diz que o mundo não pode ignorar as alterações climáticas sobre as quais há um "consenso científico muito consistente". 

A encíclica do Papa Francisco fala de ecologia e do cuidado pelo ambiente em todas as suas dimensões. Há espaço reservado para questões mais claramente ecológicas, como o desperdício de recursos e a poluição das águas, mas também para assuntos sociais, como o aborto e o tráfico de pessoas e mesmo económicas. Veja aqui algumas das frases mais marcantes. 


Animais 
"Embora o ser humano possa intervir no mundo vegetal e animal e fazer uso dele quando é necessário para a sua vida, o Catecismo ensina que as experimentações sobre os animais só são legítimas ‘desde que não ultrapassem os limites do razoável e contribuam para curar ou poupar vidas humanas’. Recorda, com firmeza, que o poder humano tem limites e que ‘é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas’. Todo o uso e experimentação ‘exige um respeito religioso pela integridade da criação’."


Dívida ecológica 
"A desigualdade não afecta apenas os indivíduos mas países inteiros, e obriga a pensar numa ética das relações internacionais. Com efeito, há uma verdadeira “dívida ecológica”, particularmente entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos naturais efectuado historicamente por alguns países. As exportações de algumas matérias-primas para satisfazer os mercados no Norte industrializado produziram danos locais (…) O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das cultivações. A isto acrescentam-se os danos causados pela exportação de resíduos sólidos e líquidos tóxicos para os países em vias de desenvolvimento e pela actividade poluente de empresas que fazem nos países menos desenvolvidos aquilo que não podem fazer nos países que lhes dão o capital. "


Conversão ecológica 
"A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Entretanto temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa.


Segundo o Vaticano, o texto foi escrito em italiano e aborda um dos argumentos mais apreciados pelo papa argentino: a chamada "ecologia humana" e o "cuidado da criação", subtítulo da encíclica. Para sua elaboração, o papa Francisco consultou muitos especialistas e cientistas e espera que sirva de referência aos presentes na conferência internacional contra o aquecimento global que será realizada em Paris (França) em dezembro.

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