quarta-feira, 23 de abril de 2014

Animais de criação ou de estimação


Atualmente em livros infantis, vemos estes animais designados por animais da quinta. Anteriormente, ou no nosso tempo, como se costuma dizer, chamava-se a estes animais, animais de criação, são eles as aves de capoeira, também assim designadas. Esta criação era de grande utilidade para as famílias que habitavam e cultivavam os campos. As aves de criação forneciam ovos e carne para toda a família e por vezes para comercializar. Por isso quase todas as famílias que habitavam zonas rurais optavam por ter capoeiras de aves. Embora pudessem ter aves de outras espécies, a preferência recaia sobre as galinhas.

“(…) Por fim decidimo-nos por aves de capoeira. As galinhas faziam todo o sentido para qualquer agricultor que tivesse renegado o uso de pesticidas e fertilizantes químicos. Eram pouco dispendiosas e relativamente fáceis de tratar. Só precisavam de uma pequena gaiola e de umas quantas caixas de milho triturado para serem felizes. Para alem de nos darem ovos frescos, tinham a vantagem de, quando deixadas à solta, passaram o dia a percorrer zelosamente a propriedade, comendo lagartas e insetos, devorando carraças, remexendo o solo como pequenas motoenxadas muito eficientes e fertilizando-o com os seus excrementos ricos em nitrogénios pelo caminho. Todas as noites ao entardecer voltam sozinhas para a capoeira. Como não gostar delas? Uma galinha era o melhor amigo do agricultor biológico. Eram perfeitas (…) ” in Marley & Eu de John Ghogan.

Mas todos estes argumentos não convenciam definitivamente o nosso pai. Bem que a mãe gostaria de ter galinhas, mas o pai não gostava nada desse tipo de animais. Dizia que sujavam tudo e assim andava sempre com os pés todos cagados de excrementos. Mas com o tempo a mãe lá conseguiu levar a água ao seu moinho. Um dia ao regressar da feira semanal lá apareceu em casa com as galinhas. As nossas galinhas! Todos nós tínhamos uma galinha. “(…) Façam o que fizeram não deixem os miúdos batiza-las. Se as batizarem deixam de ser galinhas e passam a ser animais de estimação (…) in Marley & Eu de John Ghogan.

Mas batiza-las foi a primeira coisa que as crianças desta fantástica narrativa fizeram e nós também. Cada um tinha a sua galinha ou o seu galo e na hora de se decidir qual dos animais ia para a panela ninguém queria que fosse o seu.

Estes animais piolhosos conviviam lado a lado connosco. E apesar de estúpidos cada um linha as suas particularidades. Galinhas, que se escondiam, por largos dias, ninguém sabiam onde paravam, aparecendo mais tarde com uma ninhada de pintainhos, galinhas que andavam constantemente a mudar de ninho para que ninguém descobrisse os seus ovos, etc.

“O galo é o marido da galinha. É maior e mais robusto que as galinhas e tem um porte altivo. É o chefe da capoeira.” In Dicionário por imagens dos animais. Os nossos galos também eram assim, chefes do bando, donos e senhores das galinhas todas. Acontece que um dia, um desses galos decidiu atacar pessoas, começou por atacar alguém estranho à casa. Imaginem o galo que era do Augusto foi logo saltar ao padrinho do Augusto! Tanto quanto me lembro só saltava ao pessoal masculino, menos ao dono, claro. O dono dava-lhe colo. Oiriçava-se todo e atacava. Uma vez tive que lhe dar umas boas vassouradas para que ele deixasse o Manuel em paz. Apesar da sua valentia este também não escapou à panela. Sim porque os galos também acabam por ir parar às panelas, embora em temos de carne não sejam grande coisa. São sempre muito magros, comem pouco e passa o dia atrás das galinhas. “(…) tínhamos agora três meninas e um tipo com uma crista na cabeça bombeado de testosterona que passava todo o santo dia a fazer uma de três coisas: procurando sexo, fazendo sexo ou a cantarolar jocosamente as suas façanhas sexuais. Jenny comentou que os galos eram aquilo que os homens seriam se fossem abandonados aos seus próprios mecanismos, sem convenções sociais para refrear os seus instintos mais básicos, e eu não podia deixar de concordar com ela. Tinha de admitir que até sentia uma certa inveja daquele filho da mãe.” in Marley & Eu de John Ghogan.

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